quarta-feira, 23 de novembro de 2011

13 anos sem A Lenda

Por: Antônio Brandão

Para entender Dan Osman, é preciso compreender essa sensação, ter vivido e sentido na pele essa sensação de euforia que sentimos quando somos expostos a uma situação de perigo. Este sentimento deve se manter presente durante todo o relato sobre a vida de Dan Osman. Ele mais do que ninguém gostava desta sensação e buscava isso da forma mais profunda e extrema, de uma forma que é até difícil de compreender.

Escalada livre (e veloz)

Dan Osman começou seu trajeto como escalador, e se tornou pioneiro em uma modalidade um pouco convencional, a escalada livre (free solo). Dan (ou Dano como seus amigos o chamavam) subia as mais altas e complexas paredes naturais sem utilizar nenhum tipo de corda ou equipamento. E não se contentava com o perigo da falta de equipamentos: ele também gostava de ir bem rápido.


Subindo em uma espécie de escalada de velocidade, seus movimentos precisavam ser rápidos e precisos. O estado de alerta e adrenalina eram altíssimos. Tudo deveria ser muito bem pensado. Qualquer erro em uma escalada livre pode ser fatal. Quanto mais alto Dan estava do topo, maior o grau de atenção, concentração e precisão necessários. Até chegar ao ponto em que não se pode mais errar, o momento em que se está a um passo do sucesso absoluto, ou do deslize mortal. Essa era sua vida.


Phantom Lord e a invenção da queda livre controlada

Toda a trajetória de Osman começa a mudar em 1989, em Cave Rock, Nevada (que ele chamava de Phantom Lord), durante uma escalada de dificuldade 5.13 – o nível mais alto atualmente é 5.15. Dan caiu 50 vezes enquanto tentava fixar um parafuso de ancoragem (chapeleta).
Osman percebeu que sua grande emoção não estava mais em escalar e sim na sensação do medo. Ele gostava mesmo era da queda. Seu interesse pela escalada já vinha diminuindo, algo fortalecido quando um grupo de franceses atravessou facilmente Phantom Lord por uma rota de dificuldade 5.14, sendo que Dan demorou um ano para concluir. Com sua paixão esfriando, precisava substituir a necessidade de aventura. Começou a experimentar algo completamente novo, a queda livre controlada.


Dan começou brincando de lugares mais baixos. Fazia um sistema de ancoragem e se lançava do penhasco seguro apenas por uma corda convencional de escalar. Com o tempo Dan aumentou a complexidade do seu sistema de segurança e a altura dos saltos. brincadeira que tiraria sua vida. Toda a emoção da queda livre controlada era a forma com que o sistema de compensação funcionava, fazendo com que a velocidade de desaceleração fosse a mais abrupta possível e a sensação de choque com o chão a mais próxima possível da realidade.

O outro lado de Dan Osman

Depois de terminar a fase escolar, Osman largou tudo para passar uma temporada em um vale chamado Yosemite, muito popular entre os escaladores americanos. Levava uma vida totalmente alternativa, alheia as responsabilidades modernas e preocupações do cotidiano. Junto a amigos, Dan passava os dias escalando nas montanhas de Yosemite e durante noite se virava para dormir onde dava.
Como não tinha dinheiro, roubava o que precisava para comer e pagar pelo banho. Trabalhava apenas para conseguir o dinheiro necessário para manter seus equipamentos e continuar escalando. Dan quase não mantinha contato com o mundo externo, não costumava ligar nem enviar correspondências. Ao retornar a sua cidade, Osman e sua namorada tiveram uma filha, a quem deu o nome de Emma, mas logo em seguida se separaram. Apesar de toda sua distancia e irresponsabilidades, Osman sempre foi um pai presente para a filha, sem deixar que nada faltasse.


Dan não ganhava muito bem pela atividade que exercia e os riscos que corria. Gastava tudo que ganhava para pagar suas contas, e cuidar de sua filha, mas tinha uma quantidade enorme de multas, e outras contas que ele deixava para trás. Também precisava de dinheiro para pagar os hospitais que frequentemente visitava em casos de acidente. Mas Dan também deu um jeito para isso. Consultava-se com um médico e também escalador, que muitas vezes não cobrava, além de presentear Dan com equipamentos e acessórios que ganhava de seus patrocinadores.

O último salto

Quando decidiu fazer os saltos com cordas, Dan Osman começou saltando da altura em que quedas normais de escalada aconteciam e que davam para ser sustentadas por equipamentos comuns de escalada. Conforme foi ganhando confiança, desenvolveu sistemas de ancoragens complexos para as cordas, de forma com que espalhassem melhor todo o impacto, possibilitando que ele conseguisse saltar de alturas que nunca ninguém se atreveu a saltar usando cordas de escalar.


Em outubro de 1998, enquanto se preparava para mais um salto rumo ao recorde que buscava tanto, o celular tocou. Sua filha Emma (na época com 12 anos) chorava dizendo que estava preocupada com ele. Dan avisou seus amigos que precisava ir embora, pegou seu caminhão e saiu para encontrá-la.
Dois dias depois quando voltou ao vale, Dan foi preso pelos policiais do parque. A prisão não tinha nada a ver com suas atividades arriscadas (algumas atividades como base jump eram proibidas no vale, mas eles saltavam escondidos) , mas com multas de trânsito vencidas, dirigir sem carteira e todas as coisas que Osman ignorava na vida cotidiana. Dan permaneceu 14 dias preso na cadeia de Yosemite. Enquanto isso sua família e amigos levantavam dinheiro para pagar a fiança de 22,5 mil dólares.
Ao sair da prisão, Dan foi passar um tempo com sua irmã e seu cunhado para ficar um pouco com a filha. Esse tempo fora o levou a certa reflexão, se convenceu que era hora de parar, que já havia passado dos limites com os riscos que corria e a qualquer momento poderia sofrer algum acidente.
No dia 18 de novembro, Dan ligou para um amigo pedindo carona até Yosemite para remover as cordas e estruturas que ficaram lá dos últimos saltos, os guardas estavam ameaçando confiscar todo o material. Quando chegou a Yosemite, após passar a noite escalando para chegar até as cordas, ao invés de removê-las, Dan fez um salto de 285 metros de altura (995 pés), a maior altura que havia saltado até então.A corda estava há mais de um mês exposta ao tempo, pegando neve e chuva. O amigo que o acompanhava questionou sobre o estado das cordas porque as cordas perdem força quando estão molhadas, mas foi tranquilizado pela explicação de Dan sobre a resistência das cordas, as mesmas que alpinistas usam no Everest, projetadas para suportar as piores alterações climáticas, frio e umidade. Convencido também entrou na brincadeira. O conhecimento de Dan Osman sobre os equipamentos, sistemas de ancoragem e compensação eram enormes. Ninguém ousava discordar dele.

Dan Osman - Doing what he did best... from Rock + Run on Vimeo.

Durante a noite os dois compraram comida e ficaram conversando sobre o recorde que Dan Osman pretendia bater naquele dia, ninguém falou mais nada sobre desmontar a estrutura. Na tarde dia 23, Miles Daisher fez um salto e depois desceu até o chão. Quando voltou ao topo da Leaning Tower, encontrou Dan apressado arrumando sua estrutura para o grande salto. Queria pular antes de escurecer.
Daisher disse em alguns depoimentos que sentia uma má sensação quanto ao salto. Ele saltaria de um ângulo bem diferente do que saltavam normalmente, o que significaria que ele deveria pular por cima da corda de segurança, que seria difícil de ver por estar já estar bastante escuro. Dan adicionou 22 metros a mais de corda, três vezes mais corda do que adicionava de um salto para outro. Ficaria a 45 metros do chão quando o salto acabasse.
Dan ligou para outros dois amigos que não puderam chegar porque estavam presos na neve e disse que estava pronto para fazer o salto. Prendeu o celular no suporte do peito para que pudessem acompanhar, então começou a contagem, que logo interrompeu perguntando se Daisher estava filmando tudo. Dan interrompeu uma segunda vez a contagem porque achou ter ouvido os amigos falando algo no celular.
E então saltou. Seu amigo que observava a luz de seu capacete desaparecendo na escuridão enquanto a corda esticava, fazendo o som característico que tanto gostavam, soava como um chicote. Mas o som da corda foi interrompido antes do fim. Ouviu-se então um longo grito, e o barulho de Osman caindo por cima das árvores. Seu amigo desesperado correu até a ponta acreditando que tivesse apenas balançado contra uma corda, e gritou tentando contato, mas sem resposta.
Desceu de rapel o mais rápido que conseguiu e foi seguindo o rastro de luz de sua lâmpada de cabeça pelas pedras e árvores. Encontrou o resto das cordas e avistou Dan deitado no chão. Correu até o telefone público mais próximo, ligou para os amigos que estavam no celular com Osman e deu a inevitável noticia. Dan estava morto.

Imprudência, destino ou falha técnica?

Existem várias hipóteses sobre as causas do acidente. Muitos chamam Dan de imprudente, dizem que o estado das cordas expostas ao tempo fez com que elas se enfraquecessem e se rompessem, e que ele não poderia ter sido tão descuidado assim. No entanto, em uma análise técnica da corda utilizada no salto, um engenheiro especialista em equipamentos de escalada, também escalador, diz que a corda estava em perfeito estado, e que ele mesmo escalaria usando aquelas mesmas cordas.
O perito explica que a mudança de ângulo fez com que as cordas se cruzassem, fazendo com que deslizassem umas nas outras em uma velocidade altíssima, gerando um enorme calor. As cordas e partes metálicas apresentavam derretimentos bem característicos, denunciando que houve atrito entre as cordas.
As cinzas de Dan Osman foram espalhadas em Cave Rock, no frio do Lago Tahoe, enquanto seus amigos faziam discursos e levavam flores.
Eles se uniram e formaram um fundo de arrecadação de verbas para ajudar na criação da filha, Emma Osman.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Piraí do Sul - 1ª Trip

Neste fim de semana fomos conhecer este novo setor de escalada no arenito paranaense. Saímos cedo de Curita e depois de mais uma vez constatar que sim, sempre tem um jeito de colocar toda a bagagem no carro, e de seguir uma procissão de perdidos por causa de um desvio próximo do Parque Tingui pegamos a BR 376 rumo à Ponta Grossa.
Pra chegar lá tem seguir para Castro (PR 151), passa Castro e segue para Piraí do Sul. Quando chegar no trevo siga na direção de Piraí do Sul e Ventania/Jacarezinho (PR 090). Na segunda lombada, um pouco antes do posto da BR, zere o odômetro e quando chegar nos 3,1 km entre à esquerda na estrada de chão. Como ponto de referência na beira da estrada tem a lanchonete Recanto. Aí você estará no bairro Campo Aterrado e é só seguir pela via principal até marcar 9,3 km onde tem que virar à direita, exatamente onde existe uma placa “Bem vindos as Santas Missões” (mas não se atenha a placa, amanhã ou depois ela pode não estar mais lá, foque principalmente na kilometragem). Pouco a frente existe uma bifurcação, siga pela estrada da esquerda até o km 12,7. Aí é a entrada para a casa do Seu Adão. Pare o carro aí, desça até a casa e comunique que está ali para escalar na falésia. Foi combinado previamente com o Seu Adão uma taxa de R$ 10,00 por carro/dia para escalar dentro da sua propriedade, então para evitar o famoso esquecimento, melhor pagar já na hora do que deixar para depois quando estiver indo embora e só pensando nas escaladas do dia. Daí é só seguir pela estrada, passar uma porteira (ATENÇÃO!!! SEMPRE MANTER A PORTEIRA FECHADA!!!), subir mais uns 300 metros e estacionar o carro do lado direito da estrada, numa pequena clareira, daonde pode se ouvir um riacho próximo. Dali só subir o pasto que chega na base das vias.
Para quem tem GPS as coordenadas são: 24° 30’ 22” S – 50° 2’ 24” O

(seguimos esta kilometragem e ela variou em torno de 500 mts para mais, então use esta margem antes de começar a pensar que se perdeu caso não dê na tampa as indicações)

O SETOR
Alucinante! Isso dá para adiantar com toda certeza!
Várias vias em móvel, fendas ótimas para proteger com as peças, e esportivas em arestas com agarras abauladas ou em placas com regleteira pra lá de sinistra!

Montamos o acampamento em baixo de um teto onde não tem vias, olhando no croqui fica entre as vias ‘Zig Zag Reto’ e ‘Doce Veneno’.
As primeiras vias que experimentamos foram duas à direita da ‘Zig Zag Reto’, na parte preta da parede e que ainda não constam no croqui. Talvez depois de passar um vassourão e uma vap ali fiquem bem bacanas as duas vias, mas por enquanto a característica principal delas é o excesso de sujeira. A via da esquerda tem 35 mts e toca numa cordada só, e a via da direita não está terminada (isso foi constatado no dia 19/11/2011) e antes que eu me esqueça, sempre tente descobrir se não tem algum ninho na linha da via. Vimos vários, para tudo quanto é canto.
Dali fomos para a ‘Muito Mais do Que Lindia 7b’. Eu não sou um escalador tradicional, nem tenho muita intimidade com as peças, muito menos acho prazeiroso entalar partes do corpo em fendas, e talvez por isso tenha achado a via extremamente “penosa”! Já os mais tradicionais acharam alucinante!
Da parada desta via pudemos dar uma olhada na ‘Siri Patola 9?’ que impressionou pelo tamanho, a linha de chapas na parede, a placa com regletes por onde passa e uma virada de teto que foi de encher os olhos!!!! Apesar de não termos experimentado, essa parece que vai ser uma daquelas classificadas como “filé” não só do setor, mas sim do estado.
Na seqüência fomos para a ‘Tremeu, Gemeu e Desceu 6°’ que tem duas cordadas, a primeira protegida por chapeletas, e que também merece um vassourão, e a segunda protegida em móvel. Acho que aqui cabe bem um “EXPO” na saída para a segunda cordada até achar um ponto para proteger. Não é uma escalada difícil, mas vai que .................... Então, fique esperto, proteja já no que for possível nas rampas, e no final curta chegar na parada passando pelo acento da patente, hehehehehe.
Depois do rapel já fomos conferir as vias ‘Pros Visitantes 7b?’ e ‘Um Gato Espera Um Rato 8b?’. Ambas vias bacanas, que exigem bastante movimentação e as vezes pressão em agarras beeeemmmm ruins. O que não temos dúvida, é de que estas vias estarão em eterno processo de modificação, devido à qualidade da rocha. As vias que escalamos ontem, talvez daqui um mês já não tenham mais as agarras com as mesmas pegas, e com o mesmo grau.
Para fechar o dia, um passeio de gala sacando peças na ‘Pira Não 6°’. A impressão que tivemos é de que o início dela pode ser feito por duas fendas. Escolhemos a da direita, e ao que tudo indica, se for pela da esquerda ela se junta ao restante da via lá para o meio da parede mais ou menos.

No jantar um risotão feito pelo Xambre para estreiar o seu MSR novinho em folha! E uma mistureba de chimas, cerveja e vinho para re-hidratar.
Noite estrelada, estrelas a dar com o pé! E um vento forte daqueles bons para dormir escutando a barraca e o mato sacudindo.
A parte ruim foi acordar no meio da madrugada e perceber que o colchão inflável tinha furado. Daí sim, em poucos minutos eu já sabia exatamente quantos galhos e raízes existiam embaixo da barraca ..........

Café da manhã tomado e partimos para mais umas escaladas antes de pegar o caminho de volta para casa.
Entramos na ‘Fragile 6sup’ e posso dizer com toda certeza que o nome faz jus a via! Escalada bacana, mas é difícil de confiar em todas as agarras. No platô da parada existiam alguns blocos, que foram jogados para baixo depois que eles se mexeram estranhamente durante a chegada na parada.
Na seqüência foi a vez da ‘Limão Com Açúcar 7°Expo’. Não entrei nesta, mas o Xambre foi só elogios para a via, e ficamos na dúvida se o ‘Expo’ foi de antes de baterem uma chapa na parte mais crítica. Mas por via das dúvidas, melhor sempre entrar cauteloso.
Demos uma olhada na ‘Nacho Libre 8?’ que parece ser bem bacana. Primeira via do setor. Saída de boulder num pequeno teto. Até pensamos em entrar, mas a quantidade de picadas dos malditos porvinhas que levamos em pouco mais de 2 minutos fez com que fossemos experimentar a ‘De Frente Pra Lua 9?’. Via forte da metade para o fim, com lances isoláveis, porém como nas outras duas à sua direita, vai sofrer alterações constantes nas suas agarras à medida que for escalada.

E aí bateu o cansaço, fome, agilizamos um rango, arrumamos as coisas e partimos para os dois objetivos da volta:
Objetivo 01: Coxinha clássica no posto de gasolina;
Objetivo 02: Banho quente e uma noite bem dormida no aconchego dos nossos lares.

Uma boa dica é levar um boné e se possível um daqueles óculos transparentes para dar seg.

O “?” foi usado em boa parte das vias pois são novas, poucas ascensões, e não sei se já podemos entrar em um consenso com relação ao grau definitivo delas.
O croqui tá aqui !

Assim que o Princeps me passar as fotos faço um mix com uns vídeos e posto por aqui.
Vai algumas fotos por enquanto, pois fui olhar os vídeos e as mexidas nas configurações da filmadora durante as filmagens não deram muito certo .......

Fotos by Princeps:

Se juntasse tudo, dava pra entrar num bigwall fácil fácil.

Dando um relax e contemplando o visu na parada da "Fragile 6sup - Trad".

Momento Ráááááá para equipar o crux hard da "De Frente Pra Lua 9?"

Natacha tirando os movs da "Pros Visitantes 7b?"

Daniel "Xambre" no início do crux de 3 chapas da "De Frente Pra Lua 9?"

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ser rico .... por Amyr Klink

Eu sei, ok, ok, não é uma entrevista com um escalador, nem uma reportagem sobre uma escalada, mas acho que vale a pena o post pois esta deveria ser a ideia da coisa, tirando alguns radicalismos excessivos.


Petzl Roctrip 2011 - China

Ah se fosse um pouquinho mais perto, acho que dava pra arriscar uma ida. Mas, mesmo sendo longe, quem sabe um dia rola!?!?
Como diz um dos Pêxes  "Vamo! Porquê não?!?!"











Mais fotos e matérias em: http://petzl.com/us/outdoor/news/events-1/2011/11/09/emily-harrington-roctrip-china

É de grátis !!!!

Como já tinha passado no mês anterior, olha aí os links para baixar na faixa as revistas Climbing Magazine e Urban Climber do mês de novembro: